jardim digital de acanoah

a última onda.

Os passos leves ecoaram pelo salão. Junto deles, o som de risadas infantis tentando não escapar. São três crianças, e elas não sabem exatamente o que esperar. Elas conhecem a História, é claro. Todos conhecem.

Mas os registros mesmo, o museu é aberto apenas para os maiores de 13 anos. E ainda faltam 3 anos para que o mais velho deles possa adentrar o local.

Eles são o grupo de História, os nerds. Mas ninguém da sala os leva a sério, afinal, nenhum deles pisou no museu ainda. Como eles podem saber de História?

O salão é claro, mesmo na calada da noite. Há telas, estátuas. Fotografias e vídeos sendo projetados em grandes paredes. Imagens de noticiários das cidades altas, onde nada mudou.

Mas o que chama atenção dos olhares infantis está em um canto, coberto por um vidro. Os três quase tropeçam uns nos outros, na pressa de chegar e param logo antes da faixa vermelha no chão.

O contraste com as imagens de destruição sendo projetadas é quase anti-climático. Mas essa imagem é mais importante para as crianças do que as fotos e vídeos do que aconteceu depois.

O interesse é na história dos fundadores. Na imagem que um deles desenhou, e guardou para a eternidade.

Nenhum deles achou que iria sobreviver. Não de verdade. Mas entre morrer em desespero e morrer fazendo algo que eles amavam. Era fácil a escolha.

As grandes ondas aconteceram em outros continentes antes, o deles fora o último. Se haviam sobreviventes, ninguém sabia. E ninguém se importava. Quem tinha dinheiro, status ou sorte conseguiu autorização para se mudar para as Cidades Altas, ou qualquer que fosse o nome que eles davam para aquele lugar antes.

A maior parte ficou. A maior parte não sobreviveu. Mas os fundadores eram um grupo de amigos, surfistas, que tinham decidido que se fosse pra terminar em onda, eles iriam surfar.

Ninguém esperava sobreviver. Nenhum deles esperava que iria dar certo. Um deles dizia, nos seus diários oficiais, que ele se perdeu no meio da onda e só encontrou os outros mais de três dias depois. Ele estava ferido, e dizia que o reencontro provavelmente o salvou.

O trecho tinha sido lido em um livro que um deles tinha roubado do irmão mais velho. O irmão tinha percebido, mas jurou guardar segredo. E então, os pais não sabiam desse pequeno delito.

No mesmo trecho, o fundador descrevia o desenho que fizera. Simples, dos amigos em suas pranchas, aguardando aquela última onda. O desenho que agora as crianças observavam com olhos brilhantes.

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